" TODO AQUELE QUE LÊ E GUARDA AS PALAVRAS DESTE LIVRO É BEM AVENTURADO " Parte 6

19/09/2011 14:34

 A Teoria Dia-Ano

Recentemente o estudo da profecia tem adquirido uma má reputação entre os crentes por causa da chamada “teoria dia-ano”. De acordo com essa teoria, muitos números de dias nas escrituras são computados como se um dia fosse um ano; e dessa forma são encorajadas predições sobre a data precisa da segunda vinda do Senhor Jesus Cristo - um exercício mental que é totalmente contrário ao anúncio do Senhor pois ninguém sabe o dia do Seu retorno, nem mesmo o próprio Jesus. Então, também, alguns comentaristas do livro de Apocalipse misturaram a palavra de Deus a fim de confirmar essa teoria dia-ano. Nós não temos intenção de discutir essa teoria; nós apenas desejamos apontar um entendimento correto sobre os “dias” que são mencionados na Bíblia.

Os advogados da teoria dia-ano baseiam a sua concepção em Números 14.34 e Ezequiel 4.6. Examinemos primeiro o que diz em Números: “Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado.” Aqui nos é dito que devido à sua incredulidade, os filhos de Israel foram disciplinados por Deus durante quarenta anos, um ano para cada dia que eles espiaram a terra. Mas isso não se aplica igualmente para os outros “dias” mencionados nas Escrituras, e certamente também não para os “dias” achados em Apocalipse. Assim também é em Ezequiel: “Quando tiveres cumprido estes dias, deitar-te-ás sobre o teu lado direito e levarás sobre ti a iniqüidade da casa de Judá. Quarenta dias te dei, cada dia por um ano.” Aqui vemos que Ezequiel recebeu a ordem de deitar em uma certa posição em resposta à iniqüidade de Judá. Isso não tem nada a ver com os outros “dias” achados na Bíblia.

Vejamos outras passagens.

(1) “Porque, daqui a sete dias, farei chover sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites; e da superfície da terra exterminarei todos os seres que fiz” (Gen. 7.4). Por acaso Deus esperou sete anos e depois fez chover durante quarenta anos? Não, pois o registro continua e explica: “E aconteceu que, depois de sete dias, vieram sobre a terra as águas do dilúvio... e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites.” (vv.10,12). Aqui um dia não é um ano.

(2) “Então, lhe disse José: Esta é a sua interpretação: os três ramos são três dias; dentro ainda de três dias, Faraó te reabilitará e te reintegrará no teu cargo” (Gen. 40.12,13). Por acaso foi após três anos que o chefe dos copeiros foi liberto da prisão? Não mesmo: “No terceiro dia... reabilitou o copeiro-chefe” (vv.20,21).

(3) “Então disse Jeová a Moisés: Eis que vos farei chover do céu pão, e o povo sairá e colherá diariamente a porção para cada dia... Dar-se-á que, ao sexto dia... será o dobro do que colhem cada dia” (Ex. 16.4,5). Os filhos de Israel saiam para colher o maná diariamente, e não uma vez por ano.

(4) Deus deu carne ao povo de Israel por “um mês inteiro”(Num. 11.19, 20). Eles não comeram carne por trinta anos.

(5) “Em três dias atravessareis o Jordão” (Josué 1.11). O que realmente aconteceu, afinal? Os filhos de Israel cruzaram o rio Jordão depois de três anos? Não, eles o cruzaram depois de três dias.

(6) “Assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia; também o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra” (Mateus 12.40). Por acaso o Senhor Jesus ficou no coração da terra por três anos? Nós sabemos, através do registro bíblico, que Ele ficou lá por apenas três dias e três noites.

A partir dessas evidências, portanto, podemos concluir que a teoria dia-ano é errônea. Se alguns dos “dias” encontrados no livro de Apocalipse devem ser interpretados como anos, então todos os outros “dias” encontrados nele também devem ser tratados como anos. Então, nesse caso, os três anos e meio da Grande Tribulação teriam que ser calculados como dois mil duzentos e sessenta dias; e o reino milenar deveria se estender para trezentos e sessenta mil anos. Obviamente, nós sabemos que tais cálculos como esses não podem ser verdadeiros. Confiemos, portanto, no Espírito Santo para nos guiar corretamente quando lemos a palavra de Deus. Não procuremos por idéias estranhas como essa. Embora a Bíblia seja cheia de maravilhas, não deve ser explicada de nenhuma forma curiosa ou bizarra. Nós devemos aprender a sermos mais obedientes a Deus em nossos pensamentos. Dessa maneira não seremos propensos a mal-interpretar a Sua palavra.

Os Escritos de Pedro, Paulo e João

 

 O escritor do livro de Revelação é o apóstolo João. Há muitas evidências que suportam essa afirmação; entretanto, nós não as discutiremos aqui. Mas, há uma coisa que devemos reconhecer sobre o caráter dos escritos de João. No que diferem os escritos de João dos escritos de Paulo e de Pedro? Nós sabemos que Pedro e Paulo foram escolhidos pelo Senhor para estabelecer a Igreja. Nos seus Evangelhos e Epístolas, João raramente toca a verdade da Igreja; e mesmo assim, na primeira e segunda divisões do livro de Revelação, nós descobrimos que o Senhor ordenou-o que escrevesse a sete igrejas locais. Para que possamos entender a condição e o estado da igreja como é revelada nos três primeiros capítulos de Revelação, nós precisamos examinar cuidadosamente as diferenças e o relacionamento entre os escritos de João e os escritos de Pedro e de Paulo.

É evidente nas Escrituras que Pedro é um ministro para a Circuncisão, enquanto que Paulo é um ministro para a Incircuncisão. Pedro e os onze apóstolos vivem em Jerusalém e fazem a obra do Senhor, reunindo as ovelhas perdidas da casa de Israel para formar a Igreja. Paulo é chamado pelo Senhor e recebe revelação sobre a verdade da Igreja, chamando as nações (Col. 1:24) para Cristo através da pregação do evangelho. Ele é aquele que lança o fundamento. A obra de Pedro é mais restrita aos Judeus; ele nos leva a começar nossa peregrinação celestial para a herança (perdida) de Israel reservada para nós nos céus. A obra de Paulo é amplamente estendida aos Gentios; ele nos mostra nossa posição e nossa posse celestial em Cristo. Essas são as importantes verdades do tempo do Novo Testamento, pois Deus trata com as pessoas de acordo com dispensações especiais.

A obra de João, entretanto, é um tanto diferente. Ele não ensina verdades dispensacionais. Em seu Evangelho, ele não menciona a ascensão de Cristo; em suas Epístolas, ele não aponta a posição celestial dos santos. Pelo contrário, ele se concentra no Senhor Jesus como o Verbo se fazendo carne, e vindo dos céus para a terra. Ele olha para o Senhor Jesus como a vida eterna. E, por isso, no seu evangelho, João anuncia o nascimento daquela vida eterna; e, mais adiante, em suas Epístolas, ele explica a natureza dessa vida eterna.

O ano de 70 DC – quando Jerusalém foi destruída – é um tempo transicional para a verdade transicional. A Igreja Judia, formada no dia de Pentecostes, chegou ao seu fim (na verdade, já havia acabado; isso foi apenas tornado público naquela ocasião). As verdades de Cristo e do judaísmo não estão totalmente separadas. Os cristãos devem agora sair do campo do judaísmo. A Igreja que Pedro estabelecera entre os judeus faliu; Cristo não mais governa sobre ela.

Assim como isso se tornou a verdade entre os judeus, também é verdade entre os gentios: as igrejas que o Senhor, usando Paulo, estabelecera entre as nações, também caíram, de sorte que elas não podem mais herdar a herança perdida de Israel: “Cada um cuida do que é seu”, Paulo escreveu, “não das coisas de Jesus Cristo” (Fil. 2:21).; “Todos os que estão na Ásia [inclusive a Igreja em Éfeso] me abandonaram” (II Tim. 1:15). Aqueles que melhor conheciam a verdade da Igreja eram incapazes de permanecerem firmes na fé! De fato, a apostasia já começou e o mistério da iniqüidade também tem germinado.

As obras de Pedro e de Paulo sofrem mudança dispensacional, mas a obra de João transcende a estrutura dispensacional. Ele mostra o Senhor Jesus como a vida eterna; e a vida eterna, como nós sabemos, não pode ser mudada. Embora as dispensações e os eventos humanos possam mudar, a vida eterna encontrada no Senhor Jesus e naqueles que crêem nunca muda. Embora a igreja possa ser vomitada da boca do Senhor, o próprio Senhor permanece o mesmo. A obra de João se segue à de Pedro e de Paulo, e isso supre a falta deles. João reúne, ao mesmo tempo, a primeira e a última vinda de Cristo, e a sua obra cobre a duração. Ele prega a pessoa de Cristo e a vida eterna. Apesar do fato de que, exteriormente, a dispensação tenha sido corrompida, a vida eterna permanece sem mudanças. Isso nós vemos nos dois últimos capítulos do evangelho de João. O capítulo 20 representa aquilo que acontecerá desde a ressurreição de Cristo até à Sua aceitação pelo povo judeu que restar no último dia. Tomé, olhando para o Salvador perfurado, serve como um tipo disso. E o capítulo 21 tipifica a assembléia e o reino milenar. No final o capítulo 21, nos soa mostradas as obras específicas designadas para João e Pedro (a verdade da Igreja que foi pregada por Paulo é totalmente celestial, por isso não é mencionada aqui). O rebanho de Cristo, assim como o de Israel, é designado para Pedro, mas ele morrerá antes de João, e assim sua obra não é permanente, mas tem um fim. Mais tarde, de fato, a obra de Pedro é terminada, a Igreja da Circuncisão é deixada sem um pastor, e não muito tempo depois, Jerusalém é destruída. Assim, essa obra chega a um completo fim. Mas, então, nós podemos relembrar que Pedro pergunta ao Senhor sobre a obra de João. É um tanto espantoso que o nosso Senhor não menciona a morte de João, mas apenas chama Pedro para que O siga (para morrer e para completar a obra). Ele dá a entender, entretanto, que a obra de João continuará até o Seu retorno. Embora o próprio João vá morrer, a sua obra não morre. Seus escritos continuarão a ter impacto até a segunda vinda do Senhor. Portanto, é extremamente importante que nós compreendamos as obras destes três apóstolos. A obra de João atravessa as duas vindas de Cristo. Agora nós podemos ver a verdade da Igreja. Pedro nos fala da falha da Igreja Judia; e Paulo, da falha da Igreja Gentia. João, não sendo nem ministro para Circuncisão, nem para Incircuncisão, não recebeu verdades dispensacionais; e, assim, ele não faz menção a respeito das mudanças na Igreja Judia ou na Igreja Gentia. O que ele registra no livro de Apocalipse é, em vez disso, a real condição das igrejas naquele tempo. Ele não traça a história da Igreja até o seu estado atual; ele meramente reporta as várias condições das igrejas em estado de falência e também os pertinentes julgamentos do Senhor pronunciados sobre elas. Após haverem acabado as obras de Pedro e de Paulo, João dá continuidade às suas obras: ele simplesmente narra a condição falida das igrejas de seu tempo. As igrejas sobre as quais João escreve, com exceção de Rev. 22:17, são um tanto diferentes daquelas sobre que Paulo escreveu. O testemunho de João é ver cada assembléia local por si só. Alguns candeeiros correm o risco de serem removidos. As igrejas que ele vê estão perto ou já passaram há muito tempo da queda e são agora julgadas por Cristo. A Igreja falhou! Os gentios, que pela fé foram enxertados na oliveira, não permanecem na misericórdia de Deus. Paulo ensina muito da verdade da Igreja è Igreja em Éfeso, mas agora ela tem deixado seu primeiro amor e o seu candeeiro em breve será removido. Assim como Israel foi cortado fora por Deus, a Igreja também será cortada fora. Assim como Deus fora anteriormente paciente com Israel, também Ele é paciente para com a Igreja hoje. Porém, a Igreja, como Israel, não é apta para testemunhar de Deus no mundo. A Igreja já está corrompida e derrotada, não importa o quanto possa ser esticada a dispensação; no tempo em que “Revelação” foi escrito, Deus já estava pelo menos começando a ficar insatisfeito com a sua Igreja. Ele está prestes a fazer mis uma renúncia. Por isso, o Espírito Santo expressa, por um lado, a insatisfação de Deus com a Sua Igreja e, por outro lado, Cristo obtendo o reino. Doravante o reino será o objetivo. O Senhor usa as sete igrejas existentes naqueles dias para representar a Igreja, a fim de deixar que as pessoas saibam que Ele está insatisfeito com ela e que o fim está próximo. Mesmo que o senhor atrasasse mais ainda a Sua vinda, essas sete igrejas locais em suas condições atuais seriam suficientes para representar e delinear toda a história externa da Igreja na terra. E, fazendo isso, o Senhor revela que o fim é chegado e que Ele pode retornar a qualquer hora. Isso é a sabedoria do espírito santo! E, como o senhor de fato retarda a Sua vinda, o segundo e o terceiro capítulos de Apocalipse podem servir (e de fato servem) de desfecho para as condições de toda a Igreja, do tempo de João até o dia anterior à vinda do senhor.

Nós devemos reconhecer o fato de que durante de Pedro e Paulo, a Igreja já havia caído. Tal conhecimento nos ajudará no entendimento dos ensinos a respeito da Igreja encontrados nos três primeiros capítulos de Apocalipse. Em vistas da falência da Igreja, nós devemos ver aqui que Cristo não está agindo como um pastor intercessor, mas age como um pastor juiz. Nós somos, então, instruídos que não há uma Igreja perfeita; e, dessa forma, nós podemos ser libertos da alimentar qualquer esperança a respeito da igreja. Nós vamos, então, saber qual é o tipo de atitude que devemos tomar com relação á Igreja. “Seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso” (|Rom. 3:4)