" PERECEMOS QUANDO NÃO CONHECEMOS E NEM ENTENDEMOS AS ESCRITURAS SAGRADAS" Parte 12
ENRIQUECENDO-SE COM A BÍBLIA – Parte 12
4. Extraímos benefícios das Escrituras quando o Espírito Santo nos ensina a correta finalidade da oração.
Deus determinou a ordenança da oração com, pelo menos, um designo tríplice.
- Primeiro, para que o grande Deus triuno seja honrado, já que a oração é um ato de adoração, a prestação de uma homenagem – a Deus Pai, como o Doador, em nome do Filho, o Único por intermédio de quem nos aproximamos dEle, devido ao poder impulsionador e orientador do Espírito Santo.
- Segundo, para humilhar os nossos corações, já que a oração foi determinada para levar-nos a uma posição de dependência, para que em nós se desenvolva o senso de incapacidade reconhecendo que sem o Senhor nada podemos fazer, porquanto também dependemos da Sua caridade por tudo quanto somos e temos.
Porém, quão debilmente isso é percebido (se é que é percebido) por qualquer de nós, até que o Espírito Santo nos tome em Sua mão, remova de nós o orgulho e dê a Deus o lugar que a Ele compete, em nossos corações e em nossos pensamentos.
- Terceiro, como meio pelo que obtenhamos para nós mesmos as coisas boas que pedimos.
É de temer-se grandemente que uma das principais razões pelas quais tantas de nossas orações ficam sem resposta é que temos alguma finalidade errônea e indigna em mira. Nosso Salvador disse: "Pedi, e dar-se-vos-á" (Mateus 7 :7). No entanto, Tiago ensina a respeito de certos homens: ". . . pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres" (Tiago 4:3). Orar em prol de qualquer coisa, mas não expressamente para a finalidade designada por Deus, é "pedir mal", e, portanto, é pedir sem propósito algum. Qualquer que seja a confiança que podemos ter em nossa própria sabedoria e integridade, se formos abandonados aos nossos próprios recursos, nossos alvos jamais se harmonizarão com a vontade de Deus. A menos que o Espírito Santo refreie a natureza carnal que há em nós, nossos próprios afetos naturais e insubmissos se imiscuirão em nossas súplicas, e estas se tomarão vãs. "Quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" (I Coríntios 10:31). Contudo, somente o Espírito pode capacitar-nos a subordinar todos os nossos desejos à glória divina.
5. Tiramos proveito das Escrituras quando ali somos ensinados sobre como devemos pleitear as promessas de Deus.
Toda a oração deve ser feita na atmosfera da fé (Romanos 10:14), pois, do contrário, Deus não a ouvirá. Ora, a fé diz respeito às promessas de Deus (Hebreus 4:1; Rom. 4:21); por conseguinte, se não entendermos o que Deus Se comprometeu a dar-nos, não poderemos nem ao menos orar. As promessas de Deus contêm a matéria da oração e definem as suas dimensões. Aquilo que Deus tem prometido, tudo quanto Ele tem prometido, e nada mais, sobre isso podemos orar. "As cousas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus. . ." (Deut. 29:29), mas aquilo que Ele tem mostrado ser de Sua vontade, como revelação de Sua igreja, pertence a nós; e isso nos serve de regra.
Não há nada de que tenhamos necessidade que Deus não tenha prometido suprir; mas o faz de tal maneira e sob tais limitações que sejam boas e úteis para nós. Por semelhante modo, nada há que Deus tenha prometido, e de que não tenhamos necessidade, ou que, de um modo ou de outro, não se refira a nós, na qualidade de membros do corpo místico de Cristo. Portanto, quanto melhor estivermos familiarizados com as promessas divinas, e quanto mais formos capazes de compreender a bondade, a graça e a misericórdia preparadas e propostas naquelas promessas, tanto melhor equipados estaremos para fazer orações aceitáveis ao Senhor.
Algumas das promessas de Deus são gerais, e não específicas; algumas delas são condicionais, ao passo que outras são incondicionais; algumas se cumprem ainda nesta vida, mas outras, somente no mundo vindouro. Por nós mesmos não somos capazes de discernir qual promessa se adapta melhor para nosso caso específico e para nossa presente urgência e necessidade, para que dela nos apropriemos pela fé e façamos um apelo correto perante Deus. É por isso que nos é expressamente dito: "Porque qual dos homens sabe as cousas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim também as cousas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e, sim, o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dada gratuitamente" (I Coríntios 2:11,12).
Se porventura alguém replicar: "Se tanta coisa é exigida para que se façam orações aceitáveis, e se não se podem fazer súplicas corretas a Deus sem tanta dificuldade como aqui é indicado, poucos se dedicarão por muito tempo a este mister", então a resposta é que a pessoa que assim objeta não sabe o que é orar, e nem está disposta a aprender a fazê-lo.
6. Tiramos real proveito das Escrituras quando somos levados a uma completa submissão a Deus.
Conforme foi declarado acima, uma das finalidades divinas, ao determinar a ordenança da oração, é que assim fôssemos humilhados. Isso é externamente denotado quando nos prostramos de joelhos perante o Senhor. A oração é o reconhecimento de nossa incapacidade e impotência, em que olhamos para Aquele de onde chega toda a nossa ajuda. Isso reconhece a Sua suficiência para suprir cada uma das nossas necessidades. Orar é tornar conhecidas as nossas "petições" (Filipenses 4:6) a Deus; mas petições são bem diferentes de exigências. "O trono da graça não foi erigido para que ali cheguemos e descarreguemos nossos sentimentos indignados perante Deus" (Wm. Gurnall).
Compete-nos expor o nosso caso na presença de Deus, mas permitir que a Sua sabedoria superior prescreva como a questão deve ser solucionada. Não podemos ditar a Deus, e nem podemos "reivindicar" qualquer coisa da parte de Deus, porquanto somos esmoleiros que dependem de Sua pura misericórdia. Em todas as orações devemos acrescentar: "No entanto, não seja feita a minha vontade, e, sim, a Tua".
Porém, não pode a fé pleitear as promessas de Deus e esperar a resposta? Certamente, mas deve ser a resposta de Deus. O apóstolo Paulo rogou ao Senhor, por três vezes, que lhe removesse certo espinho na carne; ao invés de fazê-lo, o Senhor lhe conferiu a graça para suportar tal espinho (II Coríntios 12:7-9). Muitas das promessas de Deus são coletivas, e não pessoais. Ele prometeu dar à Sua Igreja pastores, mestres e evangelistas; no entanto, muitas das comunidades de Seus santos tem definhado por longo tempo sem esses ministérios. Outras promessas divinas são indefinidas e gerais, ao invés de serem absolutas e universais. Isso se verifica, por exemplo, no trecho de Efésios 6:2,3. Deus jamais Se comprometeu a dar-nos bens definidos em espécie ou tipo, a conferir-nos aquela coisa específica que pedimos, embora a peçamos com fé.
Outrossim, Ele reserva para Si mesmo o direito de determinar o tempo próprio, a ocasião certa, para derramar sabre nós a Sua mercê. "Buscai o SENHOR, vós todos os mansos da terra... porventura lograreis esconder-vos no dia da ira do SENHOR" (Sofonias 2:3). Justamente porque "pode" fazer parte da vontade de Deus proporcionar-me determinada bênção temporal, é meu dever lançar-me aos Seus cuidados e pleitear essa bênção; mas sempre com inteira submissão ao Seu beneplácito, para que isso se realize.