" PERECEMOS QUANDO NÃO CONHECEMOS E NEM ENTENDEMOS AS ESCRITURAS SAGRADAS" Parte 14

29/10/2012 14:02

 

ENRIQUECENDO-SE COM A BÍBLIA – Parte 14

 

AS  ESCRITURAS  E  AS  BOAS  OBRAS

A verdade de Deus bem poderia ser assemelhada a uma vereda estreita, a cada margem ladeada por um precipício perigoso e destruidor: em outras palavras, fica entre dois golfos de erro.

Essa figura simbólica, como se pode perceber, é apropriada devido à nossa tendência de passar de um ponto extremo para outro. Somente a aptidão outorgada pelo Espírito Santo pode permitir-nos preservar o equilíbrio, pois a falta de tal equilíbrio inevitavelmente nos levaria a cair no erro; pois o erro não é tanto a negação da verdade, mas antes, é a perversão da verdade, em que lançamos uma parte dela contra a outra.

A história da teologia ilustra vigorosa e solenemente esse fato.

Uma geração de homens tem contendido correta e sinceramente por aquele aspecto da verdade que era mais urgentemente necessário em seus dias.

A geração seguinte, ao invés de palmilhar pela mesma senda e seguir avante, fica a guerrear intelectualmente por ela, como se fora o sinal distintivo do partido deles, e usualmente, na defesa do que passa a ser alvo de assédios externos, recusa-se a dar ouvidos à verdade que é o extremo oposto acerca do qual seus oponentes tanto insistiam e que poderia dar-lhes equilíbrio.

O resultado é que perde seu senso de perspectiva, frisando aquilo que acreditam de maneira alheia às proporções bíblicas.

Consequentemente, na geração seguinte, os verdadeiros servos de Deus são forçados quase a ignorar o que era tão valioso aos olhos da geração anterior, preferindo salientar aquilo que os primeiros, se não negaram, pelo menos desconsideraram quase completamente.

Alguém disse que "Os raios de luz, sem importar se procedem do sol, das estrelas ou de uma lâmpada, movem-se em linhas perfeitamente retas; contudo, tão inferiores são as nossas obras, em contraste com as obras de Deus, que a mão mais firme não sabe traçar uma linha perfeitamente reta; e a despeito de todas as suas habilidades, o homem nunca foi capaz de inventar um instrumento capaz de fazer uma coisa aparentemente tão simples" (T. Guthrie, 1867).

Seja assim ou não, o fato é que os homens, deixados a depender de seus próprios recursos, têm achado impossível manter a linha certa da verdade que fica entre o que parecem estar em conflito.

Entre esses casos poderíamos citar as doutrinas da soberania de Deus e da responsabilidade do homem; da eleição pela graça e da proclamação universal do evangelho; da fé justificadora, ensinada par Paulo, e das obras justificadoras, ensinadas por Tiago.

Com grande freqüência, sempre que se tem insistido acerca da soberania absoluta de Deus, isso é feito ignorando-se a necessidade que os homens têm de prestar contas ao Senhor; e sempre que a eleição incondicional tem sido ressaltada, a pregação generalizada do evangelho, entre os perdidos, tem sido esquecida.

Por outro lado, sempre que a responsabilidade humana tem sido destacada e que o ministério evangelizador tem sido frisado, a soberania de Deus e a verdade da eleição geralmente têm sido olvidados ou mesmo completamente ignorados.

Muitos de nossos eleitores têm testemunhado exemplos que ilustram a verdade do que dissemos acima; mas poucos parecem perceber que exatamente a mesma dificuldade é experimentada quando se faz a tentativa de demonstrar as relações exatas entre a fé e as boas obras.

Se, por um lado, alguns têm errado par atribuir às boas obras um lugar que as Escrituras não ensinam, o que é certo também é que, por outro lado, outros têm deixado de atribuir às boas obras a província que as Escrituras lhes dão.

E assim também, se por um lado, é erro sério atribuirmos a nossa justificação perante Deus a qualquer realização pessoal, por outro lado, tornam-se igualmente culpados de erro aqueles que negam que as boas obras são necessárias para chegarmos ao Céu, nada mais admitindo senão que são meras evidências ou frutos de nossa justificação.

E temos perfeita consciência de que a esta altura, (por assim dizer) pisamos sobre cascas de ovos, correndo o sério risco de sermos por nossa vez acusados de heresia. Não obstante, consideramos expediente buscar a ajuda divina para manusearmos essa dificuldade, entregando a questão e seus resultados ao próprio Deus.

Em alguns segmentos da cristandade as reivindicações da fé, embora não tenham sido inteiramente negadas, têm sido desprezadas, devido ao zelo que ali têm pelas obras boas. Em outros círculos, reputados como ortodoxos (e esses é que temos agora principalmente em foco), somente com grande raridade as boas obras recebem o seu devido lugar, e apenas uma vez ou outra os cristãos professes são exortados, com zelo apostólico, a se dedicarem às boas obras. Não há que duvidar que, em certos casos, essa atitude é tomada por receio de não dar o devido valor à fé, como se tal exortação encorajasse os pecadores a caírem no erro fatal de confiarem em suas próprias realizações, e não na justiça de Cristo.

Nenhuma apreensão dessa natureza, porém, deveria impedir o pregador de declarar "todo o conselho de Deus" (Atos 20:27). Se o tema do pregador é a fé em Jesus Cristo, como Salvador dos perdidos, que ele exponha perfeitamente aquela verdade sem quaisquer modificações, proporcionando à graça divina o lugar que o apóstolo lhe deu, na resposta ao carcereiro de Filipos (Atos 16:31).

Entretanto, se o seu tema é as boas obras, que ele seja igualmente fiel, nada retendo de tudo quanto as Escrituras ensinam a respeito; e que não se esqueça daquele mandamento divino, que diz: "... quero que, no tocante a estas cousas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras..." (Tito 3:8).

A passagem citada em último lugar é o trecho bíblico mais pertinente para estes dias de lassidão e frouxidão, de profissões de fé sem valor, de jactâncias vazias. A expressão "boas obras" encontra-se, no singular ou no plural, nas páginas do Novo Testamento, por não menos de trinta vezes; contudo, a julgar pela raridade com que muitos pregadores – que são considerados ortodoxos a usam, salientam e a explanam, muitos de seus ouvintes haverão de concluir que essas palavras figuram apenas por uma ou duas vezes na Bíblia inteira.

Falando aos judeus e abordando um outro assunto, disse o Senhor: "...o que Deus ajuntou não o separe o homem" (Marcos 10:19). Ora, em Efésios 2:8-10, Deus reúne duas das mais vitais e benditas realidades, às quais jamais deveriam ser separadas em nossas mentes e em nossos corações, embora assim suceda com freqüência, nos púlpitos modernos. Quão grande é o número de sermões alicerçados sabre os dois primeiros desses versículos, os quais declaram enfaticamente que a salvação vem pela graça, mediante a fé, e não através das obras. No entanto, quão raramente somos relembrados de que a declaração que começa a falar sabre a graça e a fé só se completa no décimo versículo, onde somos informados: "Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas". 

Esta série foi iniciada ficando ressaltado o fato de que a Palavra de Deus pode ser estudada com base em diversos motivos ou lida com diferentes desígnios, mas que o trecho de II Timóteo 3:16,17 esclarece para o que as Escrituras Sagradas são realmente "proveitosas", a saber, para ensinar, para repreender, para corrigir e para instruir na justiça; e tudo isso para que o homem de Deus "... seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra". Tendo-nos demorado em torno dos ensinamentos bíblicos acerca de Deus, de Cristo, de reprimendas e correções do pecado, de instruções relativas à oração, consideremos agora como esses ensinamentos nos prepararam para "toda boa obra".

Temos nesse ponto um outro critério vital mediante o qual toda a alma honesta, com a ajuda do Espírito Santo, pode verificar se seu estudo e sua leitura da Palavra realmente lhe estão sendo benéficos ou não.