" PERECEMOS QUANDO NÃO CONHECEMOS E NEM ENTENDEMOS AS ESCRITURAS SAGRADAS" Parte 7
ENRIQUECENDO-SE COM A BÍBLIA – Parte 7
AS ESCRITURAS E CRISTO
A ordem que seguimos nesta série é a ordem da experiência comum a todos. Não é senão quando o homem vem a ficar inteiramente insatisfeito consigo mesmo que começa a aspirar a Deus.
A criatura decaída, iludida por Satanás, sente-se satisfeita consigo mesma até que os seus olhos, cegados pelo pecado, sejam abertos para que possa contemplar a si mesma. O Espírito Santo primeiramente insufla em nós o senso de nossa própria ignorância, vaidade, pobreza espiritual e depravação, antes que nos leve a perceber e a reconhecer que somente em Deus podem ser encontradas a verdadeira sabedoria, a bênção real, a bondade perfeita e a justiça imaculada. Nossa consciência precisa ser despertada para as nossas próprias imperfeições, antes que possamos apreciar de fato as perfeições divinas. E, quando as perfeições de Deus são contempladas, então é que o homem se torna ainda mais cônscio da infinita distância que o separa do Deus Altíssimo. Quando aprende algo sobre as prementes reivindicações de Deus sabre ele, e também sobre sua total incapacidade de satisfazer a essas reivindicações, é que fica capacitado para ouvir e para dar acolhida às boas novas de que Outro satisfez plenamente essas reivindicações, para todos quantos forem levados a depositar confiança nEle.
"Examinais as Escrituras", declarou o Senhor Jesus; e acrescentou: "... e são elas mesmas que testificam de Mim" (João 5:39). Sim, as Escrituras testificam acerca de Cristo como o Único Salvador dos pecadores que perecem, como o Único Mediador entre Deus e os homens, como o Único por intermédio de quem nos podemos aproximar de Deus Pai. Elas testificam, igualmente, acerca das admiráveis perfeições de Sua pessoa, das glórias variegadas de Seus ofícios, da suficiência de Sua Obra terminada. À parte das Escrituras, Cristo não pode ser conhecido. Somente por meio delas é que Ele é revelado.
Quando o Espírito Santo toma aquilo que pertence a Cristo e as mostra a Seu povo, dessa maneira tornando essas coisas conhecidas às almas remidas, não usa Ele outra coisa além daquilo que está escrito. E apesar de ser verdade que Cristo é a chave para a compreensão das Escrituras Sagradas, é igualmente verdadeiro que somente nas Escrituras nos é desvendado o "mistério de Cristo", sobre o qual se lê em Efésios 3:4.
Ora, a medida em que tiramos proveito de nossa leitura e estudo das Escrituras pode ser verificada pela extensão em que Cristo Se está tornando mais real e mais precioso para os nossos corações. O "crescimento na graça" é definido como um desenvolvimento "...na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (II Pedro 3:18). E na segunda cláusula não é acrescentado algo à primeira; antes, há uma explicação sabre a primeira cláusula. "Conhecer" a Cristo (Filipenses 3:10) era o supremo anseio e o grande alvo do apóstolo Paulo, um anelo e um alvo ao que ele subordinava todos os demais interesses. Mas, convém que prestemos toda a atenção, que o "conhecimento" referido nesses versículos não é o conhecimento intelectual, mas o espiritual, não é o teórico, mas o experimental, não é de natureza geral, e, sim, pessoal. Trata-se de um conhecimento sobrenatural, propiciado ao coração regenerado devido às operações do Espírito Santo, conforme Ele vai interpretando e aplicando em nós as passagens bíblicas concernentes a Cristo.
Ora, o conhecimento de Cristo que o bendito Espírito Santo outorga ao crente, por intermédio das Sagradas Escrituras, lhe é proveitoso de diferentes maneiras, de acordo com suas variadas situações, circunstâncias e necessidades. No tocante ao pão que Deus deu aos filhos de Israel, durante suas peregrinações pelo deserto, está registrado que eles "...colheram, uns mais, outros menos" (Êxodo 16:17). Outro tanto se dá no caso de nosso recebimento dAquele de quem o maná era um tipo simbólico. Existe algo, na admirável pessoa de Cristo, que se adapta exatamente a todas as nossas condições, a todas as nossas circunstâncias e a todas as nossas necessidades, tanto para o tempo como para a eternidade; no entanto, mostramo-nos lentos para perceber tal verdade, e mais lentos ainda para agir de conformidade com essa verdade.
Existe uma plenitude na pessoa de Cristo (João 1:16), e que é posta em disponibilidade para dela tirarmos proveito. E o princípio que regula a profundidade com que nos tornaremos fortes na "... graça que está em Cristo Jesus" (II Timóteo 2:1), é "Faça-se-vos conforme a vossa fé" (Mateus 9:29).
1. O indivíduo se beneficia do estudo das Escrituras quando elas lhe revelam a sua necessidade de Cristo.
O homem, em seu estado natural, se considera auto-suficiente. Naturalmente que ele tem uma apagada percepção de que nem tudo está perfeitamente certo entre ele mesmo e Deus; no entanto, não tem dificuldade alguma para persuadir a si próprio de que é capaz de fazer aquilo que propicie a Deus. Isso faz parte do fundamento mesmo da religião de todo o homem, e que teve início em Caim, e em cujo "caminho" (Judas 11) as multidões continuam andando. Basta que se diga ao homem religioso comum que "... os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Romanos 8:8), para que esse homem se sinta imediatamente ofendido. E basta que se pressione sabre ele o fato de que "... todas as nossas justiças (são) como trapo de imundícia" (Isaías 64:6), para que sua urbanidade hipócrita imediatamente dê lugar à ira. Assim acontecia nos dias em que Cristo estava na terra. O povo mais religioso de todos, os judeus, não tinha qualquer senso de que eles estavam "perdidos", como também da urgente necessidade de um Salvador Todo-poderoso.
"Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes" (Mateus 9:12). Faz parte do oficio específico do Espírito Santo, mediante a Sua aplicação das verdades bíblicas, o convencer os pecadores de sua desesperadora situação, para que assim possam perceber que o seu estado é tal que "Desde a planta do pé até à cabeça não há nele cousa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo" (Isaías 1:6). Mas, na proporção em que o Espírito nos convence de nossos pecados – de nossas ingratidões contra Deus, de nossas murmurações contra Ele, de nosso afastamento para longe dEle – e à medida em que nos impressiona com as reivindicações de Deus – os direitos que Ele tem ao nosso amor, à nossa obediência e à nossa adoração bem como de nossas tristes e fracassadas tentativas de prestar-Lhe aquilo que Lhe devemos, então somos levados a reconhecer que Cristo é a nossa Única esperança, e que, a menos que nos abriguemos nEle, qual refúgio, a justa indignação de Deus mui certamente haverá de cair sobre nós.
Entretanto, não devemos limitar isso à experiência inicial da conversão. Quanto mais o Espírito Santo aprofunda a Sua obra graciosa na alma regenerada, tanto mais o indivíduo se torna cônscio de sua própria corrupção, de sua pecaminosidade e de sua vileza; e percebe ainda mais a sua necessidade de dar valor àquele precioso sangue que o purifica de todo pecado. O Espírito Santo está aqui a fim de glorificar a Cristo; e uma das principais maneiras pela qual Ele faz isso é abrindo mais e mais os olhos daqueles em favor de quem Cristo morreu, para que percebam quão apropriado é Ele para criaturas tão miseráveis, tão imundas, tão merecedoras do inferno. Sim, quanto mais verdadeiramente tiramos proveito de nossa leitura das Escrituras, tanto mais sentimos que precisamos de Cristo.