" PERECEMOS QUANDO NÃO CONHECEMOS E NEM ENTENDEMOS AS ESCRITURAS SAGRADAS" Parte 8

24/09/2012 10:16

ENRIQUECENDO-SE COM A BÍBLIA – Parte 8

 

As Escrituras e Cristo

 

2. O indivíduo se beneficia das Escrituras quando elas tornam Cristo mais real para ele.

A grande massa da nação israelita nada mais via senão a casca externa, nos ritos e cerimônias que Deus lhes deu para que os observassem; mas um remanescente regenerado teve o privilégio de contemplar o próprio Cristo. "Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se... ", declarou o Senhor Jesus, em João 8: 56. Moisés "... considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito... " (Hebreus 11:26).

Outro tanto ocorre na cristandade. Para as multidões, Cristo é apenas um nome, ou, quando muito, um caráter histórico. Esses não têm contatos pessoais com Ele, não desfrutaram de qualquer companheirismo espiritual com Ele. Se porventura ouvirem alguém falar, arrebatado, sobre as excelências de Sua pessoa, haverão de considerá-lo um entusiasta ou um fanático. Para tais indivíduos, Cristo é irreal, vago, intangível. No caso do crente autêntico, todavia, a atitude é inteiramente outra. A linguagem de seu coração é:

Tenho ouvido a voz de Jesus.

Para mim, só Ele é perfeito.

Tenho visto a face de Jesus,

Minha alma ficou satisfeita.

Contudo, essa visão bem-aventurada não é a experiência constante e invariável dos santos. Assim como as nuvens se interpõem entre o sol e a terra, assim também as falhas, em nosso andar diário, interrompem a nossa comunhão com Cristo e servem para ocultar de nós o resplendor de Sua face. "Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama, será amado por Meu Pai, e Eu também o amarei e Me manifestarei a ele" (João 14:21). Sim, é aquele que, pela graça, palmilha pela senda da obediência, que recebe as manifestações conferidas pelo próprio Senhor Jesus. E quanto mais freqüentes e prolongadas forem essas manifestações, mais real Ele se torna para a alma, até sermos capazes de dizer juntamente com Jó: "Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos Te vêem" (Jó 42:5). Assim, pois, quanto mais Cristo for Se tornando uma realidade viva para mim, mais tirarei proveito da Palavra.

 

3. O indivíduo se beneficia das Escrituras quando se ocupa das perfeições de Cristo.

É o senso de necessidade que lança a alma aos braços de Cristo, no princípio; mas é a percepção de Suas excelências que nos faz achegarmo-nos a Ele, desde então. Quanto mais real Cristo Se torna para nós, tanto mais vamos sendo atraídos pelas Suas perfeições. No começo Ele é visto apenas como Salvador; mas, na proporção em que o Espírito Santo continua a destacar diante de nossos olhos aquilo que pertence a Cristo, descobrimos que sobre a Sua cabeça há "... muitos diademas... " (Apocalipse 19:12). Desde a antigüidade que foi dito: "... e o seu nome será: Maravilhoso... " (Isaías 9:6). E o nome de Cristo significa tudo quanto dEle as Escrituras dão a conhecer. "Maravilhosos" são os Seus ofícios, quanto ao seu número, quanto à sua variedade e quanto à Sua suficiência. Ele é o Amigo que nos é mais chegado do que um irmão, que nos ajuda em cada momento de necessidade. Ele é o grande Sumo Sacerdote, que Se deixa comover diante das nossas debilidades. Ele é o nosso Advogado junto a Deus Pai, o qual nos faz a defesa quando Satanás nos acusa.

Nossa grande necessidade é ocuparmo-nos com Cristo, assentarmo-nos a Seus pés, conforme fez Maria, recebendo assim de Sua plenitude. Nosso principal deleite deve ser considerar ". . . atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus" (Hebreus 3:1); deve ser contemplar as várias relações que Ele mantém para conosco, meditar acerca das muitas promessas que Ele nos tem feito, demorarmo-nos na contemplação de Seu admirável e imutável amor por nós. Ao fazermos assim, haveremos de deleitar-nos no Senhor de tal modo que as vozes de sereia deste mundo perderão todo o seu encantamento em nosso caso.

Ah, prezado amigo, você conhece experiência assim, em sua vida diária? Cristo é, para a sua alma, o principal entre dez milhares? Conquistou Ele o seu coração? Sua principal alegria é ficar sozinho com Ele, a conversar com o Senhor? Caso contrário, a sua leitura e o seu estudo da Bíblia bem pouco lhe tem aproveitado.

 

4. O indivíduo se beneficia das Escrituras quando Cristo se torna mais precioso para ele.

Cristo é precioso na estima de todos os crentes  (I Pedro 2:7). Esses consideram todas as coisas como perda, em face da excelência do conhecimento de Cristo Jesus, seu Senhor (Filipenses 3:8). O nome dEle, para eles, é um ungüento derramado (Cantares 1:3). Assim como a glória de Deus, que aparecia em beleza indescritível, no templo, bem como na sabedoria e no resplendor da corte de Salomão, atraía adoradores desde as regiões mais distantes da terra, assim também a excelência sem paralelos de Cristo – ali prefigurada – atrai ainda mais poderosamente os corações de Seu povo. O diabo sabe disso perfeitamente bem, pelo que ele também procura enegrecer as mentes daqueles que não crêem, colocando entre eles e Cristo as atrações deste mundo. E Deus permite ao diabo assediar igualmente ao crente. Entretanto, está escrito: "...resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Tiago 4:7). Devemos resistir-lhe mediante oração definida e sincera, rogando ao Espírito Santo que incline as nossas afeições para Cristo.

Quanto mais nos ocuparmos com as perfeições de Cristo, mais haveremos de amá-Lo e de adorá-Lo. É a falta de familiaridade experimental com Ele que faz nossos corações se tornarem tão frios para com Ele. Mas, sempre que uma comunhão real e diária é cultivada, o crente será capacitado a dizer junto com o salmista: "Quem mais tenho eu no Céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra" (Salmo 73:25). Essa é a própria essência e a natureza distinta do verdadeiro cristianismo. Os zelotes legalistas talvez se ocupem atarefadamente em dizimar a hortelã, o endro e o cominho, e talvez percorram mares e terras para fazer um prosélito, e contudo não têm amor a Deus, em Cristo. Deus olha para o coração: "Dá-me, filho meu, o teu coração... " (Provérbios 23:26) é a Sua exigência. E quanto mais precioso Cristo é para nós, tanto maior é o deleite que Ele tem em nós.

 

5. O indivíduo que tira proveito das Escrituras tem uma confiança crescente em Cristo.

Há "pequena fé" (Mateus 14:31) e também há "grande fé" (Mateus 8:10). Há também a "plena certeza de fé", segundo se lê em Hebreus 10:22, como há também o confiar no Senhor de todo o "coração", conforme se vê em Provérbios 3:5. Assim como há o crescimento que vai "... de força em força... " (Salmo 84:7), assim também lemos em subir "... de fé em fé... " (Romanos 1:17). Quanto mais forte e mais constante for a nossa fé, tanto mais o Senhor Jesus será honrado. Até mesmo a leitura apressada dos quatro evangelhos revela o fato de que coisa alguma agradava tanto ao Salvador como a firme dependência que aqueles que permaneceram em Sua companhia demonstraram ter dEle. O próprio Cristo viveu e andou pela fé, e quanto mais o fizermos, mais estaremos sendo transformados em Sua imagem, como os membros para com a Sua cabeça. Acima de tudo há uma coisa que deve ser nosso alvo, e que devemos buscar diligentemente, através de oração intensa: que a nossa fé aumente. Paulo foi capaz de dizer: "... a vossa fé cresce sobremaneira... " (II Tessalonicenses 1:3).

Ora, ninguém pode confiar em Cristo, a menos que seja Ele conhecido; e quanto melhor for Ele conhecido, tanto mais confiaremos nEle: "Em Ti, pois, confiam os que conhecem o teu nome, porque Tu, SENHOR, não desamparas os que te buscam" (Salmos 9:10). Na proporção em que Cristo Se vai tornando mais real para nossos corações, e na medida em que nós vamos crescentemente nos ocupando com Suas multiformes perfeições e Ele se torna mais e mais precioso para nós, a confiança em Sua pessoa se vai acentuando de tal maneira que chega a ser natural confiarmos nEle, como natural é o respirar. A vida cristã é um "andar" de fé (II Coríntios 5:7), e essa própria expressão denota um progresso contínuo, o livramento crescente de todas as dúvidas e temores, a mais ampla certeza de que tudo quanto Ele prometeu haverá de cumprir.

Abraão é o pai de todos aqueles que crêem, pelo que também o registro de sua vida terrena fornece-nos a indicação do que significa ter uma confiança dependente no Senhor. Primeiramente, ante a simples palavra divina Abraão voltou as costas para tudo quanto lhe era caro na carne. Em segundo lugar, ele partiu dependendo simplesmente de Deus, e habitou como estrangeiro e forasteiro na Terra da Promessa, onde jamais possuiu um simples acre de área. Em terceiro lugar, quando foi feita a promessa de que geraria um filho em sua idade avançada, ele não levou em conta os obstáculos que pareciam impedir a concretização dessa promessa. Finalmente, quando lhe foi ordenado que oferecesse a Isaque em sacrifício, par meio de quem aquelas promessas deveriam concretizar-se, ele considerou que Deus era capaz de até mesmo "ressuscitá-lo dentre os mortos''  (Hebreus 11:19).

Na história de Abraão nos é demonstrado como a graça é capaz de subjugar um maldoso coração cheio de incredulidade, como o espírito pode ser vitorioso sabre a carne, como os frutos sobrenaturais de uma fé dada e sustentada por Deus podem ser produzidos por um homem de paixões semelhantes às nossas. Tudo isso foi registrado visando ao nosso encorajamento, para que oremos a fim de que o Senhor Se agrade por operar em nós aquilo que Ele operou no pai dos fiéis e através dele. Não há outra coisa que tanto agrade, honre e glorifique a Cristo do que a confiança nEle, do que a confiança que espera, do que a fé similar à de uma criança, da parte daqueles para quem Ele deu todos os motivos para nEle confiarem de todo o coração. E não existe outra coisa que tanto evidencie o fato de que estamos sendo beneficiados pelas Escrituras do que a nossa fé crescente em Cristo.