" EM TUDO O QUE FIZERMOS NA VIDA, SEJAM BOAS OU MÁS, É CERTO QUE AS CONSEQUÊNCIAS VIRÃO, A NÓS COMPETE SABER ESCOLHER CORRETAMENTE. "

22/05/2015 06:38

Qual a relação das drogas no desenvolvimento de doenças mentais?

O transtorno mental pode ocorrer antes de a pessoa se tornar um dependente químico ou depois, como consequência do uso de substâncias químicas, e de certa forma ser mascarado ou ainda potencializado pelo uso de droga.

No caso do aparecimento de doenças mentais originadas pelo uso contínuo de drogas, podemos afirmar que qualquer substância química (seja ela lícita ou não) pode lesar o cérebro e trazer sequelas – cuja intensidade e gravidade sempre dependerão do tipo de droga utilizada, do tempo de uso e da suscetibilidade individual.

Estas complicações psiquiátricas podem aparecer enquanto a pessoa faz uso ativo da substância ou até mesmo após um tempo considerável de abstinência. As complicações psiquiátricas após a interrupção do consumo podem estar relacionadas a sintomas de abstinência tardios que deixam o indivíduo ansioso e inquieto.

Entre os quadros mais comuns de comorbidades psiquiátricas em dependentes químicos, destacam-se a depressão e quadros de ansiedade, tais como transtorno do pânico e ansiedade generalizada. Quadros psicóticos (semelhantes à esquizofrenia com delírios e alucinações) e transtornos da personalidade, além de outros comportamentos compulsivos, também apresentam estreita correlação com o abuso de substâncias e podem ocorrer de forma aguda durante o consumo (desaparecendo completamente após tratamento específico) ou até permanecer indefinidamente.

Essa última situação é mais comum em indivíduos que já eram predispostos à doença, sendo o consumo de drogas o fator desencadeante de sua emergência.

Há evidências de que mesmo o uso infrequente e de pequenas doses de drogas, podem levar o indivíduo com transtornos mentais graves a consequências mais sérias do que as vistas na população geral.

O tratamento do dependente químico que também é portador de outra doença mental tem resultados melhores quando se integra o tratamento dos sintomas psíquicos do eventual transtorno com atitudes direcionadas à dependência. A existência de comorbidade aumenta a dificuldade no controle de cada doença isoladamente, ou seja, é mais complexo tratar um paciente deprimido e dependente de cocaína do que o tratamento da depressão ou dependência à cocaína isoladamente.

O maior problema decorrente da associação entre outros transtornos psiquiátricos e abuso e/ ou dependência de substâncias é o diagnóstico diferencial e consequentemente, o planejamento da intervenção, pois ocorre uma superposição de sintomas, tanto da ansiedade como da intoxicação ou síndrome de abstinência de substâncias. Um transtorno pode exacerbar ou mascarar o outro.

O diagnóstico adequado feito pela equipe médica e terapêutica deve levar em consideração:

  1. Histórico familiar e questões específicas sobre possíveis distúrbios psiquiátricos. As informações devem ser colhidas junto ao paciente e também a familiares e amigos.
  2. Exames laboratoriais e possíveis alterações ocorridas pelo consumo crônico de álcool, alterações metabólicas e hormonais, doenças infectocontagiosas, exames neurológicos e detecção de drogas na urina.
  3. Questionários ou testes específicos, por exemplo, o Exame Neuropsicológico (que é uma avaliação detalhada e objetiva das principais funções mentais: atenção, memória, linguagem, raciocínio lógico, planejamento, percepção visual, capacidade aritmética, etc. Para isto, são utilizados testes específicos, além de questionários e inventários aplicados por profissionais especializados).
  4. A observação clínica que deve ser feita pela equipe durante o período de desintoxicação. A persistência ou não de sintomas psiquiátricos após este período pode facilitar o correto diagnóstico.
  5. Conhecimento adequado da equipe médica e aplicação dos critérios diagnósticos da CID-10 e da DSM – IV para detecção das principais comorbidades associadas à dependência química.

Além de proporcionar o não uso da substância, o tratamento tem que objetivar assistir intensivamente a eventual síndrome de abstinência, a correção de estados agudos de ansiedade e depressão, as idéias delirantes e as eventuais alucinações que possam surgir.

Por isto, é de extrema importância que o processo terapêutico envolva sempre o acompanhamento da equipe médica para que possa ser feita a correta avaliação e verificação de possíveis comorbidades nos pacientes com dependência química para que haja realmente maior eficácia e aderência ao tratamento e para que seja possível alcançar e tratar, mediante os instrumentos adequados para cada uma das reações (seja por medicação, seja por terapia), as patologias que co-ocorrem sem deixar de lado nenhuma delas.