" IGREJA UNIVERSAL - UMA ANÁLISE COMPARATIVA DE SUA PRÁTICA E FÉ " - Parte 2

05/09/2011 11:06

 

RELATÓRIO DA COMISSÃO PERMANENTE DE DOUTRINA DA IPB SOBRE A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS - Parte 2

 

Obs: Este relatório foi elaborado pela Igreja Presbiteriana do Brasil visando o esclarecimento de seus membros referente à fé e prática da IURD. Sendo de cunho totalmente restrito ao modus vivendi da IPB, em muitos pontos não reflete necessariamente a opinião deste ministério.  Todavia, é um estudo muito útil no que tange a mostrar o perfil da IURD. 

Batismo com o Espírito Santo e as línguas 

O ensino da IURD é bastante confuso quanto à doutrina do batismo com o Espírito Santo, à semelhança de outros grupos neopentecostais. Inicialmente, existe uma confusão na terminologia, onde termos como "batismo com o Espírito Santo", "selo do Espírito Santo", "plenitude do Espírito Santo" são usados alternativamente para uma mesma experiência ocorrida após a conversão.

No geral, seguem o ensino pentecostal clássico acerca do batismo com o Espírito Santo: é visto como uma experiência de crise, a qual deve ser buscada, utilizando-se os meios apropriados que induzem ao estado emocional necessário. Os passos que um candidato ao batismo com o Espírito deve dar são estes, em resumo: 1) libertação de demônios presentes no seu corpo; 2) perdoar quem o feriu; 3) não andar na mentira; 4) não deixar que seus pensamentos se envolvam com as coisas deste mundo; 5) confessar a Deus tudo que o acusa diante de Deus; 6) desligamento das preocupações; 7) louvar a Deus em voz audível; 8) não interromper este louvor com pedidos de cura ou libertação; 9) não se deixar distrair por barulhos ou coceira, mas continuar louvando cada vez mais forte; se estes passos forem seguidos, o candidato sentirá grande alegria e passará a falar em línguas, como sinal de que foi batizado e selado com o Espírito Santo.

Para Macedo, o batismo com o Espírito Santo habilita o cristão a ser participante da natureza do próprio Jesus.

O falar em línguas é entendido como evidência necessária do batismo com o Espírito Santo. Diz Macedo: "O que acontece de fato, é que quando alguém é batizado com o Espírito Santo, recebe logo, o dom de línguas, como uma evidência de seu batismo". Entretanto, contradiz-se na mesma obra, ao afirmar: "Embora a Bíblia não ensine que para receber o batismo com o Espírito Santo a pessoa precise falar em línguas estranhas..." A mesma incerteza e confusão se percebe nos escritos do teólogo principal da IURD, J. Cabral:

Tanto o batismo com o Espírito Santo, como o falar em línguas desconhecidas, como evidência ou não do batismo, são bíblicos... Não vamos entrar no mérito da questão para explicar se as manifestações são válidas ou não para os nossos dias, ou se as interpretações corretas dos textos citados [Atos 2.10, 46; 19.6; 1 Co 12.14] são as desse ou daquele grupo. Isso é muito mais uma questão de fé do que de discussão teológica dada a natureza do assunto.

A orientação de Macedo ao que deseja falar em línguas (ser batizado com o Espírito) inclui relaxamento dos lábios, pronunciar intencionalmente palavras sem sentido que estão "no coração", e respiração funda. Para Macedo, as línguas estranhas têm como alvo "chamar a atenção do próprio Deus", e têm um efeito "purificador, elevador, e até transformador, e isso beneficia a pessoa envolvida". Também, servem para autenticar a fé dos que falam.

O ensino da IURD sobre o batismo com o Espírito Santo e as línguas contém as mesmas deficiências do ensino pentecostal clássico sobre o assunto. O ensino bíblico, conforme entendido pela Comissão Permanente de Doutrina e publicado na sua Carta Pastoral, é que:

A Escritura ensina que a experiência normal do batismo com o Espírito Santo coincide com a regeneração-conversão, e que são selados por este mesmo Espírito todos os que crêem genuinamente em Cristo Jesus (Tt 3.5; At 2.38; Rm 5.5; 8.9; 1 Co 12.13. Ver At 11.17; 19.2, e ainda Ef 1.13-14; 2 Co 1.22; Ef 4.30).

A Escritura dirige-se a todos os que já são crentes como tendo já sido batizados com o Espírito. Em nenhum lugar ela encoraja os que já são crentes a buscar esse batismo, quer por preceito, quer por exemplo.

Em nenhum lugar do Novo Testamento as línguas são mencionadas como a evidência normal do batismo com o Espírito Santo, ou da Sua plenitude, para os crentes, após o Pentecoste. A evidência inconfundível da plenitude espiritual, segundo Paulo, é o fruto do Espírito (Gl 5.22-23). Portanto, o falar em línguas não deve ser considerado como a evidência de nenhuma destas duas experiências. 


Cura Divina 

Macedo entende que as doenças são resultado direto da operação de espíritos malignos. A epilepsia, a AIDS, e tumores malignos, por exemplo, são encaradas como sendo causadas por essas entidades. Macedo vê a atuação dos espíritos especialmente nas doenças mais difíceis de sarar:

Há pessoas que têm feridas nas pernas que não cicatrizam nunca. Por que? Aquilo é um espírito que está alojado ali. Aquilo é um espírito. Aqueles que têm dor de cabeça constante, daquelas que não há médico que descubra a causa... pois bem, isso é o espírito.

Partindo desses pressupostos, entende-se porque na IURD a cura de doenças é buscada através da expulsão dos espíritos supostamente causadores das mesmas. A cura divina é vista por Macedo como inerente nas feridas de Jesus e direito de todo crente, que não dever buscar, mas reconhecer e receber. Segundo Macedo, a cura de uma enfermidade é sempre a vontade de Deus.

Em decorrência das pressuposições acima, Macedo conclui:

A cura divina é um direito adquirido através do Senhor Jesus Cristo; não é uma questão de fé, mas simplesmente de aceitação por parte do doente do sacrifício realizado pelo Senhor na cruz do Calvário, isto é, pelas Suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53.5). Quer dizer que "já" fomos sarados e não temos necessidade de ficar pedindo uma coisa que já nos foi concedida.

Essa declaração surpreendente de Macedo, de que não há necessidade de se pedir a cura, contradiz a prática de pastores e obreiros da IURD em seus templos, onde a busca da libertação das moléstias físicas é um dos pontos centrais da liturgia.

Macedo também centraliza o poder de realizar curas na pessoa do pastor, ao dizer que:

O dom de curar é concedido ao pastor, afim de que ele possa "exercer" o ministério de cura para aqueles que estão incapacitados de crer por não poderem ouvir a Palavra de Deus, devido à surdez ou por causa de tantos outros fatores que os impeçam de assimilar seus direitos diante de Deus.

Tal declaração vai de encontro ao ensino bíblico quanto aos dons espirituais, e aparentemente, tem como alvo evitar que o poder de curar seja exercido por outros que não os líderes da IURD. 


Dons de milagres

Macedo acredita na contemporaneidade do dom de milagres, e mais especificamente, que este dom se manifesta na IURD, "que sobrevive exclusivamente pelas operações de maravilhas realizadas pelo Espírito Santo, através de seus servos". Essa abordagem justifica, no pensamento da IURD, a centralidade dos milagres em sua liturgia, já que, também, para Macedo, "todos os demais dons do Espírito Santo estão incluídos neste dom [de operar milagres]".

Macedo corretamente dá como exemplos de milagres os grandes eventos bíblicos como a travessia do Mar Vermelho, a queda das muralhas de Jericó, a água da rocha em Refidim, as águas do Jordão partidas ao meio, o sol e a lua detidos, Elias faz descer fogo do céu, a água transformada em vinho, a tempestade acalmada, Jesus andando sobre as águas, etc. Em seguida, afirma: "Um grande exemplo deste dom [de milagres] realizado atualmente é o caso da Igreja Universal do Reino de Deus." Existe, porém, uma discrepância radical entre os milagres bíblicos mencionados por Macedo, e os "milagres" da IURD, para que se possa concluir que o dom de milagres mencionado nas Escrituras esteja em operação ali.

As crenças e práticas da IURD examinadas aqui são suficientes para que vejamos que se trata de uma igreja onde tem havido grande mistura de verdade e erro, tornando-a uma "igreja menos pura".

RAZÕES PELAS QUAIS A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS PODE SER CONSIDERADA COMO UMA IGREJA QUE TEM SE DESCARACTERIZADO 

O uso da terminologia cristã, bem como a profissão de fé em doutrinas comuns aos evangélicos, seriam suficientes para qualificar a IURD como uma igreja dentro da tradição cristã. Os seus ensinos e práticas examinados acima, contudo, poderiam nos levar a considerá-la como uma igreja "menos pura". Na verdade, existem elementos na credenda e agenda da IURD que mesmo a qualificam como igreja que tem se descaracterizado (conforme CFW, "se tem degenerado"), como passamos a expor. 


Cosmovisão 

Entendemos que a raiz das crenças e práticas da IURD que são contrárias ao Evangelho é a sua cosmovisão, isto é, sua maneira pela qual percebe e entende o mundo ao seu redor. Esta cosmovisão, por sua vez, é fruto de sua hermenêutica falha, como já exposto em 4.1.1.

A cosmovisão da IURD é a de um mundo povoado de demônios e anjos maus, que estão procurando achar as mínimas brechas para se apossarem das vidas das pessoas (crentes e descrentes). Macedo, por exemplo, atribui à atividade demoníaca a destruição dos lares e do casamento, a prostituição, o homossexualismo, as enfermidades como epilepsia, AIDS, e feridas incicatrizáveis. Afirma Macedo que "toda sorte de miséria e desgraça, até o desemprego, é sintoma da ação do diabo".

O ensino bíblico é claro, que Satanás ronda os crentes como leão faminto, e que seus demônios procuram, sempre que possível, nos assaltar, tentar, afligir, e nos levar ao pecado. Biblicamente, porém, espíritos malignos não são a única explicação para os males que ocorrem no mundo. Aviões podem cair, furacões podem destruir, pessoas podem ficar doentes, tomar decisões erradas em suas vidas, estragar seus casamentos, sem que necessariamente haja demônios diretamente responsáveis por estas coisas. Vivemos num mundo decaído, que geme e suporta dores, debaixo do cativeiro da corrupção, por causa do pecado do ser humano (Rm 8.18-25). Além disto, Deus também intervém na existência humana em julgamento, trazendo, por vezes, desastres, sofrimento e dor, com o objetivo de trazer as pessoas ao arrependimento (Jr 5.3; Ap 9.20-21; 16.8-11). É uma distorção do ensino bíblico atribuir exclusivamente aos demônios os males que acometem a humanidade.

O modo pelo qual a IURD encara os males do mundo deságua inevitavelmente nos ministérios de "libertação", onde Satanás tem se tornado o centro. Não que o estejam adorando — certamente que não. Mas há tanta ênfase aos demônios, ao exorcismo, à libertação de males supostamente produzidos por demônios, que quase só falam, pregam, e escrevem sobre isso. As grandes e principais doutrinas das Escrituras são relegadas a plano secundário.

É claro que a cosmovisão da IURD assemelha-se mais à do antigo mundo pagão, do que à da cosmovisão bíblica. No paganismo grego, influenciado por Homero e pelas religiões de mistério oriundas da Mesopotâmia, Frígia, Egito e Síria, deuses e demônios infestavam o mundo, e o cotidiano; a vida e o destino das pessoas dependiam de seus relacionamentos com essas entidades.

Da forma como alguns líderes da IURD enfatizam e descrevem o poder de Satanás e de seus demônios, tem-se a impressão que, na prática, eles acreditam que estes espíritos têm poder quase igual ao de Deus, muito embora o neguem em seus discursos. Esse ressurgimento do dualismo dentro de círculos evangélicos faz parte do maciço retorno ao paganismo que caracteriza a sociedade ocidental moderna.

Existe assim o risco do retorno à Igreja do Maniqueísmo, uma heresia antiga, rejeitada pela Igreja no início da sua história, que ensinava que o mundo é regido pelo embate de duas forças cósmicas iguais, porém opostas entre si, o bem e o mal, um dualismo entre as forças das trevas e as forças da luz. A Igreja rejeitou e condenou as idéias do Maniqueísmo, pois são contrárias ao ensino bíblico de que Deus é o Senhor absoluto do universo, e que Satanás é apenas uma das suas criaturas, totalmente debaixo do seu controle. 

Possessão de crentes 

A forma em que o mundo é visto pelo líderes e pregadores da IURD, sua cosmovisão, dá lugar à crença na possessão de crentes por demônios. Este pensamento é claro no livro Orixás, Caboclos & Guias: Deuses ou Demônios no capítulo 15, "Crentes endemoninhados?" Macedo afirma claramente que o capítulo é fruto de sua observação:

Este capítulo não existira se eu não tivesse visto constantemente pessoas de várias denominações evangélicas caírem endemoninhadas, como se fossem macumbeiras, ao receberem a oração da fé.

Macedo não oferece nenhum texto bíblico argumento para comprovar tal doutrina. A sua observação de casos, como citado no parágrafo acima, é a base da sua crença (a agenda determina a credenda). Segundo ele é um estado e não uma condição. Este estado depende do homem cristão e do que ele faz com sua vida com relação ao pecado, ou seja, o crente pode estar num estado de vida em que a proteção divina contra as investidas do diabo é suficiente para evitar a sua possessão. Nesse caso, diz Macedo "não há lugar para nenhum demônio em seu corpo ou em sua mente. Isso, entretanto, é um estado e não uma condição." Dependendo de sua conduta, entretanto, este estado é alterado e o crente abre as portas para a possessão. O caráter definitivo da obra de Cristo e do Espírito Santo na vida do cristão são completamente ignorados. Dentro desta perspectiva a obra de Cristo tem caráter provisório, não definitivo, e deixa o pecador resgatado sujeito à sua própria vontade e sujeito, em última instância, a toda investida de Satanás, inclusive a possessão. Para Macedo, até mesmo o crente que foi batizado com o Espírito Santo (segundo o conceito pentecostal de batismo com o Espírito Santo como uma segunda bênção) pode sair deste estado e vir a ser possessa. 


Maldições hereditárias 

Como parte de sua cosmovisão, a IURD ensina o que ficou conhecido como "maldições hereditárias", ou seja, a idéia de que existem espíritos familiares que acompanham as gerações de uma família, causando-lhes sempre os mesmos males e infortúnios. Afirma Macedo:

Existe um espírito que só atua na destruição do lar. É o chamado espírito familiar. Você pode verificar isso a partir das etapas que o casal enfrenta na vida. Esse espírito normalmente vem dos pais. Se eles são divorciados, o mesmo espírito que destruiu o lar dos pais vai tentar o lar dos filhos, dos netos, dos bisnetos. Isso é uma herança maldita... [o espírito familiar] passa de pai para filho por todas as gerações, até que a pessoa tenha um encontro com Jesus. Aí, corta-se a maldição.

Embora possamos concordar com Macedo que "um encontro com Jesus" (entendido como conversão) quebre todas as maldições que pesavam sobre a cabeça de um pecador, rejeitamos a idéia de que hajam espíritos que se transmitam de pais para filhos; além disto, maldições (como a justa retribuição dos pecados) são impostas por Deus, e não por demônios. Jesus Cristo pode removê-las pois foi feito "maldição" em nosso lugar (Gl 3.13). 


Ceia do Senhor 

A IURD ensina uma doutrina estranha quanto à Ceia do Senhor. De acordo com Macedo,

[a carne de Cristo] atraiu todas as nossas doenças e enfermidades. Conseqüentemente, nós não mais precisamos ficar doentes. Satanás não tem mais direito de exercer domínio sobre nosso corpo físico, porque este tem a natureza do Senhor Jesus, pela fé, na participação do pão da Santa Ceia.

Macedo ainda afirma que, na Ceia, Cristo confere a sua própria saúde física ao que participa do pão pela fé:

Quando o Senhor Jesus determinou que o pão abençoado e partido para os Seus discípulos era o Seu corpo, estava mostrando o real sentido da Sua vida física, isto é, Seu vigor e Sua saúde, partidos em favor de todos que O aceitam, tal qual Salvador, afim de que venham as ser participantes de Sua própria natureza, gozando de Sua saúde física.

Macedo conclui que assim como o corpo de Jesus dá saúde física, seu sangue dá saúde espiritual. Ele afirma:

Podemos considerar que, da mesma forma pela qual o corpo do Senhor Jesus, simbolizado pelo pão, nos dá a total saúde física, também o seu sangue, simbolizado pelo vinho, nos dá a saúde espiritual.

Macedo afirma ainda que a Ceia anuncia, entre outras coisas, os milagres extraordinários do Senhor, suas curas, e sua vitória sobre os demônios.

Fica claro que o conceito da IURD sobre a Ceia é radicalmente controlado pelas distorções da sua cosmovisão. Longe de "representar Cristo e os seus benefícios, e nosso interesse nele" (CFW, 27:1), a Ceia na IURD torna-se primariamente (embora não exclusivamente) um meio de se alcançar saúde, cura e benefícios materiais. Não é de se admirar que igrejas locais da IURD admitam à Ceia, não somente os seus membros, mas todos quantos se façam presentes na igreja, no momento da celebração, quer evangélicos ou não. O convite a católicos e espíritas é feito abertamente. De acordo com a CFW, porém, Cristo instituiu a Ceia "para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o resto do mundo"(27:1) — aspecto ausente na eucaristia iurdiana. Assim, além de omitir os aspectos fundamentais da obra de Cristo simbolizados na Ceia, Macedo lhe dá um sentido alheio às Escrituras. 


Batismo 

Macedo acredita que a perfeição cristã é introduzida após as águas batismais. Para ele, no batismo a velha natureza é crucificada, já que "não podemos ficar com duas naturezas, uma pecaminosa e outra convertida".

Macedo ensina que, os que são batizados por imersão,

... automaticamente, sem forçar a sua vontade, deixam de praticar atos pecaminosos. Por maior que seja o seu "mau gênio", ela, pelo batismo, se torna a pessoa mais dócil e humilde deste mundo. . . Também aquelas pessoas que não conseguiam largar o vício, após terem aceito o Senhor como seu Salvador pessoal, e terem se batizado, instantaneamente, e espontaneamente o abandonam.

O ensino de Macedo, ligando a graça salvadora e santificadora ao batismo, vai contra a instrução bíblica sobre a salvação pela graça somente, como diz a CFW em seu ensino sobre o batismo:

Posto que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança [o batismo], contudo, a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligados com ela, que sem ela ninguém possa ser regenerado e salvo ou que sejam indubitavelmente regenerados todos os que são batizados (CFW, 28:5).

Macedo rejeita o batismo infantil argumentando que batismo pressupõe, necessariamente, arrependimento. E conclui: "De que maneira uma criança vai se arrepender de seus pecados, se ela não os têm?" Evidentemente uma criança não pode arrepender-se de seus pecados, mas não porque não os tenha. Macedo aqui parece crer na inocência ou pureza natural das crianças. Como tal, nega a afirmação bíblica da total depravação do ser humano, desde o nascimento, conforme o ensino da CFW sobre a Queda e o pecado do homem:

Por este pecado eles [Adão e Eva] decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma.

Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito de seus pecados foi imputado aos seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede, por geração ordinária (ver Sl 51.5; 58.3). (CFW, 6:2,3).

O ensino da IURD sobre os pontos acima representam uma degeneração do ensinamento bíblico sobre os sacramentos. 


Dízimos e ofertas 

O sistema e método da arrecadação de dízimos e ofertas é um outros aspecto da vida da IURD que consideramos uma desfiguração do ensino bíblico da mordomia cristã. A idéia que é passada em seus cultos, escritos, programas, concentrações, é que as bênçãos de Deus, quer materiais (prosperidade, saúde, emprego, bens materiais) ou espirituais (libertação e cura, por exemplo) serão derramadas sobre o fiel em proporção ao tamanho da oferta dada. Embora Macedo procure se referir à oferta dos fiéis como uma demonstração de amor a Deus, está ausente o conceito bíblico de que os crentes devem contribuir para a causa do Evangelho e sustento dos pobres e necessitados, sem visar recompensas divinas ou humanas. Indagado acerca da fundamentação teológica para a insistência da IURD em recolher dinheiro de seus fiéis, e se quanto mais dinheiro alguém der, maior será a bênção recebida de Deus, Macedo respondeu, após citar 2 Coríntios 9.6:

Eu ensino isso às pessoas. De acordo com o tamanho da fé, a pessoa faz a oferta. Para que alguém alcance as riquezas de Deus, é preciso manifestar uma fé. A fé no Deus vivo é o melhor investimento que uma pessoa pode fazer na vida.

E comentando o crescimento da IURD (em 1995), afirmou:

Por que a Universal cresce? Porque está trazendo benefícios para as pessoas. Caso contrário, a igreja desapareceria. As pessoas estão recebendo. Está havendo uma troca com o CriadAo mesmo tempo, a IURD identifica a prosperidade financeira como sendo um sinal evidente das bênçãos de Deus sobre a vida de alguém. A transformação que Deus opera nas vidas das pessoas é entendida em termos de cura da AIDS, cura de paralíticos, restauração de casamentos, sucesso financeiro, etc. Estão ausentes os conceitos evangélicos de reconciliação com Deus, perdão de pecados, e adoção, entre outros.

Embora reconheçamos que nas Escrituras existem promessas divinas de retribuição material aos que contribuem generosamente para os pobres, necessitados, e para a causa do Reino de Deus, apontamos para o fato de que, muito mais do que a fé e a quantia de quem dá, a ênfase recai sobre o propósito e a intenção do doador em dar livremente, sem nada esperar em troca. O verdadeiro ofertante não está interessado no que Deus lhe possa dar, mas em agradá-lo, em fazer outros felizes, em fazer o bem, praticar boas obras. Na pregação da IURD, existe forte ênfase no aspecto retributivo, criando em seus membros uma mentalidade de troca com Deus. Consideramos este aspecto uma desvirtuação do ensino bíblico, especialmente porque abre as portas para a manipulação dos fiéis quanto às suas ofertas.

O dinheiro, na teologia da IURD, ganha quase que um status sacramental. Segundo Macedo,

O Espírito Santo nos faz compreender que o dinheiro, na Sua obra, é o sangue da Igreja do Senhor Jesus Cristo, pois que ele, através de um meio qualquer de divulgação, faz pessoas receberem a vida eterna dentro de um hospital, lar, presídio, etc.

Para Macedo, bilhões vão passar a eternidade no inferno "porque não houve quem financiasse, através dos seus dízimos e ofertas, o trabalho missionário".

O dinheiro, na visão de Macedo, torna-se a maneira pela qual a Igreja pode prová-lo de forma exclusiva, tal sua importância.

A validade do dízimo como forma neo-testamentária de contribuição como propagado pela IURD, não difere do ensino de muitas igrejas protestantes históricas e pentecostais. Entretanto, enquanto que algumas delas insistem no aspecto liberal e desinteressado do dizimista, Macedo enfatiza que as ofertas e dízimos são a chave que abre os tesouros da graça e do poder divinos. Diz Macedo:

Quando pagamos o dízimo a Deus, Ele fica na obrigação (porque prometeu) de cumprir a Sua palavra, repreendendo os espíritos devoradores que desgraçam a vida do ser humano, atuando nas doenças, acidentes, vícios, degradação social, e em todos os setores da atividade humana, os quais fazem o homem sofrer. Quando somos fiéis nos dízimos, além de nos vermos livres destes sofrimentos, passamos a gozar de toda a plenitude da Terra, tendo Deus ao nosso lado, nos abençoando em todas as coisas.

Macedo revela falta de compreensão do relacionamento pactual entre Deus e o homem, quando afirma que Deus deseja ser nosso sócio, e que nesta sociedade, o que é nosso passa a ser de Deus ("nossa vida, nossa força, nosso dinheiro"), e o que é de Deus ("as bênçãos, a paz, a alegria, a felicidade") passam a nos pertencer.

Percebe-se ainda uma notável semelhança entre a IURD e a Igreja Católica medieval no que tange às tentativas de se obter a graça de Deus através de esforços humanos: naquela época, pela compra das indulgências; aqui, conforme o documento da AEVB, "a compra do sucesso através das intermináveis correntes de prosperidade que demandam do fiel que doe dinheiro em cada culto, sob pena de não alcançar a bênção". 


Uso de objetos ungidos 

A prática pastoral da IURD, em muitos aspectos, também justifica nossa preocupação com a sua descaracterização como igreja cristã. Algumas destas práticas são descritas pela AEVB como se segue:

O uso dos elementos mágicos dos cultos e das superstições populares do Brasil, entre eles o sal grosso (para afastar maus espíritos), a rosa ungida (usada nos despachos e nas oferendas a Iemanjá), a água fluidificada (usada por credos espiritualistas a fim de trazer a influência espiritual para o corpo humano), fitas e pulseiras (semelhantes na sua designação às fitas do chamado Senhor do Bonfim), o ramo de arruda (usado para afastar coisas más) e uma quantidade enorme de apetrechos aos quais se empresta [sic] supostos valores espirituais que podem ser passados por seus usuários.

Estes objetos mencionados acima (e outros) são empregados pela IURD em sua "batalha espiritual" contra os demônios, dentro da sua convicção de que todos os males existentes no mundo são por eles produzidos. Teoricamente, a IURD não parece crer que exista qualquer poder intrínseco nos mesmos; estes objetos são vistos como "pontos de contato" que têm como alvo "despertar a fé" das pessoas. Mas na sua praxis litúrgica, a idéia é outra:

Muitas pessoas dizem que a angústia e brigas em casa são coisas da época que vivemos. Isso é falso. São coisas resultantes da presença dos demônios. As vezes querem ir à Igreja,. Mas na hora de ir perdem a coragem ou acontece alguma coisa. Tudo o que impede as pessoas de ir à igreja é demônio. Venha, vamos ungir o seu pé direito e desamarrar a sua vida.

Participe da campanha da arruda contra os maus espíritos na última sexta feira do mês. Temos a oração de descarrego com arruda, uma oração forte, muito forte, para a sua vida.

Venha receber o pão da cura, o pão da bênção, o pão do Espírito. Leve um pedaço de pão para um doente. Ele vai ser curado!

Venha à Igreja Universal receber uma fita para colocar no seu braço. Você que hoje está com uma fita vermelha venha na próxima semana receber uma fita azul, em que está escrito: persegui os meus inimigos e só voltei depois que os esmaguei. Venha, pois no domingo você vai receber a fita azul, em todas as igrejas Universal. Largue a fita do Senhor do Bonfim, dos santinhos, e venha receber a nossa fita azul, da cor do céu.

A IURD não somente emprega práticas pagãs supersticiosas; usa também a nomenclatura do baixo espiritismo para se referir às entidades espirituais malignas. Enquanto que as Escrituras silenciam quanto aos nomes dos demônios, mencionando apenas por nome o líder deles, Satanás, a IURD se utiliza da nomenclatura afro-brasileira dos deuses da Umbanda para dirigir-se aos demônios, identificá-los e eventualmente expulsá-los. "Tranca ruas", "pomba gira", "exús", "caboclos", "preto velho", etc., são nomes normalmente empregados nos cultos de libertação.

Contrariando o ensino bíblico do culto ao Deus vivo em espírito e verdade, e introduzindo elementos, nomenclatura e conceitos pagãos na sua liturgia, a praxis da IURD representa uma desfiguração e deformação do culto evangélico, terminando por praticar de outra forma a superstição e a ignorância religiosa que condena no catolicismo e espiritismo brasileiros. 


Expulsão de demônios como principal ministério 

Uma outra corrupção prática da IURD decorre da sua doutrina fundamental de que todos os males que acometem as pessoas, a sociedade, a Igreja, e os cristãos individualmente, são produzidos diretamente por demônios, os quais se instalam nas vidas destas pessoas (crentes ou descrentes) e nas estruturas sociais, políticas e econômicas. Em decorrência, para a IURD, a estratégia principal da Igreja para ajudar as pessoas é sempre confrontar e expelir essas entidades malignas. Esta visão do mundo e da missão da Igreja é uma característica distintiva da IURD, e de outras igrejas que adotam a "batalha espiritual".

No pensamento da IURD, em sua ação pastoral, missionária e evangelística, a Igreja deve sempre empregar o método de expulsão de demônios para libertar as pessoas e a sociedade destes males. Concordamos com D. Powlison, em sua crítica ao movimento de "batalha espiritual", ao afirmar que o que está por detrás dos ministérios de libertação individual é a crença equivocada de que "os demônios do pecado residem dentro do coração humano". A característica principal dos modernos movimentos de "libertação", entre eles a da IURD, é a expulsão de demônios, o que caracteriza uma profunda distorção do ensino bíblico sobre a prática pastoral. O livro de Macedo, Orixás, Caboclos & Guias: Deuses ou Demônios se propõe a esclarecer este "ministério", ensinando inclusive, como se deve agir na "missão de ajudar as pessoas a se libertarem".


RELAÇÕES ENTRE A IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL E A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS 

À luz da sua pesquisa acima, a Comissão Permanente de Doutrina entende que existem elementos evangélicos suficientes na pregação da IURD para que as pessoas ali sejam genuinamente convertidas pela ação do Espírito Santo, através da verdade do Evangelho; mas que existem crenças e prática, de tal forma contrarias ao Evangelho de Cristo, que a IURD não pode ser considerada senão como uma igreja desfigurada; e que a mensagem ali pregada apesar de afirmar pontos centrais, acaba por ser uma caricatura do Evangelho de Cristo. E que, em que pesem os testemunhos de pessoas transformadas, e a divulgação do nome de Cristo no Brasil, a atuação da IURD tem muito mais contribuído para disseminar um evangelho desfigurado, trazendo assim um desserviço ao avanço do verdadeiro Reino de Deus no Brasil.

Atendendo à determinação da Comissão Executiva, a Comissão Permanente de Doutrina vem agora, à luz da conclusão acima, oferecer sugestões sobre como concílios, pastores e membros da Igreja Presbiteriana, devem proceder em situações potencialmente difíceis que envolvam um relacionamento com a IURD. 

Recepção de pessoas egressas da IURD 

A Comissão Permanente de Doutrina recomenda que tais pessoas sejam recebidas como membros comungantes somente após um período de instrução bíblica e na fé reformada por parte dos conselhos, cuidando, em particular, que elas sejam corrigidas quanto às distorções doutrinárias e práticas da IURD aqui expostas e criticadas (1 Timóteo 4.1-2; 2 Timóteo 2.25-26).

Recomenda ainda que essas pessoas sejam recebidas por pública profissão de fé, e que as perguntas do Manual de Culto da Igreja Presbiteriana do Brasil para esta ocasião sejam devidamente respondidas. 


Cargos de liderança em igrejas da IPB por pessoas egressas da IURD 

A Comissão Permanente de Doutrina recomenda que estas pessoas, após recebidas como membros comungantes, sejam ainda observadas pelos conselhos pelo período de um ano, no mínimo, conforme prescreve a CI-IPB, se forem candidatas a cargos de oficialato (1 Timóteo 3.1-13; ver especialmente vv. 6-7).

Quanto a cargos de liderança em geral (como por exemplo, presidentes de organizações internas, ou professores de ED) recomenda-se que, mesmo não sendo artigo constitucional, o mesmo prazo seja observado, com o objetivo de permitir a plena assimilação por parte dessas pessoas, das doutrinas e práticas da IPB. 


Freqüência às reuniões da IURD por membros da IPB 

A Comissão Permanente de Doutrina recomenda que, com o objetivo de evitar que os membros das igrejas presbiterianas sejam expostos às doutrinas e práticas contrárias à fé reformada, os conselhos e pastores instruam-nos e recomende-lhes que participem efetivamente dos cultos e atividades das suas igrejas locais, e que evitem participação nas reuniões da IURD. O mesmo cuidado é recomendado com relação aos programas veiculados pela mídia pela IURD. 


Participação de pastores da IPB em eventos em conjunto com pastores da IURD 

Embora reconhecendo que pronunciamentos individuais de pastores e membros da IPB, bem como seus envolvimentos particulares ou públicos com outros grupos religiosos, não representem uma posição da IPB quanto a esses grupos, a Comissão Permanente de Doutrina recomenda aos concílios que orientem seus pastores a que não promovam e nem se envolvam em eventos que exijam sua participação com pastores e obreiros da IURD, com o fim de evitar, perante o grande público brasileiro, e os membros das igrejas evangélicas, qualquer idéia de comprometimento por parte dos presbiterianos com a credenda e a agenda iurdiana. 

Adoção de usos, costumes, e métodos da IURD por parte de igrejas e organizações da IPB 

A Comissão Permanente de Doutrina recomenda expressamente que não se adote nas igrejas presbiterianas a prática iurdiana de usar apetrechos e objetos cúlticos sob o pretexto de estimular a fé, ou de que tenham em si qualquer poder espiritual, como copos d’água, fitas coloridas, ramos de arruda, sal grosso, entre outros. Essa recomendação tem em vista, não somente os cultos públicos, como também reuniões nos lares e outras reuniões das igrejas.

Recomenda que não se adote calendários litúrgicos onde figurem reuniões de libertação, correntes de oração para prosperidade, e demais costumes e métodos empregados pela IURD, visto que são contrários ao ensino bíblico e à fé reformada.

Recomenda ainda que não se adote por parte das igrejas, concílios e organizações da IPB, métodos de crescimento de igreja inspirados na cosmovisão, liturgia e metodologia da IURD. Que adotem, ao contrário, uma metodologia estratégica de evangelização e missões que seja fruto da reflexão bíblica, e não da emulação que se deixa impressionar com o aspecto externo do crescimento das igrejas neopentecostais.